Seminário
[Texto dos Cadernos do cárcere]
António Gramsci
Posterior a 1931
Fonte: Algunos puntos preliminares de referencia, na antologia preparada e traduzida por J. Solé-Tura: Introducción a la filosofía de la praxis, Ediciones Península, Barcelona, 1972, págs. 11-15.
Tradução para o português da Galiza: José André Lôpez Gonçâlez. Maio, 2008.
HTML: Fernando A. S. Araújo.
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É preciso destruir o preconceito, muito difundido, de que a filosofia é algo muito difícil polo facto de ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. Portanto, deve-se demonstrar preliminarmente, que todos os homens são «filósofos», definindo os limites e as características desta «filosofia espontânea» peculiar a «todo o mundo», isto é, da filosofia que está contida:
a) na própria linguagem, que é um conjunto de noções e de conceitos determinados e não só de palavras gramaticamente vazias de conteúdo;
b) no senso comum e no bom-senso;
c) na religião popular e, conseqüentemente, em todo o sistema de crenças, de superstições, de opiniões, de modos de ver e de agir que se manifestam naquilo que se conhece geralmente por «folclore».
Após ter demonstrado que todos são filósofos, ainda que a seu modo, inconscientemente porque, na mais simples manifestação de uma atividade intelectual qualquer, a «linguagem», contem-se já uma determinada concepção de mundo, passemos ao segundo momento, ao momento da crítica e da consciência, isto é, ao problema de se é preferível «pensar» sem disto ter consciência crítica, isto é, «participar» de uma concepção de mundo «imposta» mecanicamente polo ambiente exterior, e portanto, por um dos grupos sociais nos quais todos estamos automaticamente envolvidos desde a nossa entrada no mundo