Sartre
Sartre: o apóstolo do absurdo
Por Peter Kreeft
Jean-Paul Sartre (1905-1980) talvez seja o mais famoso ateu do século XX. Apesar disso, levou mais indecisos rumo à Fé do que muitos apologetas cristãos, porque fez do ateísmo uma experiência tão exigente – quase insuportável – que poucos puderam aguentá-la.
Nas próprias palavras de Sartre, “o existencialismo nada mais é do que o esforço por extrair todas as conseqüências da postura atéia”. Ateus acomodados que lêem Sartre tornam-se ateus incomodados, e um ateísmo incômodo é um gigantesco passo rumo a Deus. Isso é algo que devemos agradecer-lhe.
Sartre chamou a sua filosofia de “existencialismo” porque defendia que “a existência precede a essência”. Isso significa concretamente que “o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo”. Como não existiria um Deus para projetá-lo, o homem não teria nenhum plano, nenhuma essência. A sua essência ou natureza não viria de um Deus Criador: seria fruto exclusivo das suas próprias escolhas livres.
Há algo de muito profundo nessa tese, mesmo que logo depois esse “algo” seja subvertido. Trata-se do fato de que, mediante as suas escolhas livres, o homem determina aquilo que virá a ser. Deus realmente cria tudo o que o homem é, mas o modo de ser é algo que só pode pertencer a cada um individualmente. Deus faz o nosso “quê”, mas cada um faz o seu “quem”. O Senhor concede-nos a honra de colaborar na nossa própria criação, ou “co-criação”. Compartilha conosco a tarefa de criar o nosso “eu”. Dá a matéria prima – o ambiente, a hereditariedade –, mas sou eu quem dá a “forma” final a mim mesmo, por meio das escolhas que livremente vou fazendo.
Infelizmente, Sartre sustenta que isso é prova da não-existência de Deus, pois se Deus existisse, o homem ficaria reduzido à condição de “mero artefato divino”, e portanto não seria livre. Sartre insiste com frequência em que a liberdade e a dignidade humanas requereriam o ateísmo. Sua atitude perante