SAGU - QUINZE ANOS DE SEPARAÇÃO
Toda família tem histórias, e a minha não é diferente. Revisitando o passado, colhi junto à minha mãe uma história hilariante: a minha paixão por sagu. Dentro daquilo que posso classificar como meritocracia, minha mãe usava desta estratégia para premiar com algum mimo algum dos filhos quando esses tivessem, ao longo da semana, um comportamento dentro do que ela chamava de exemplar, e isto incluía, não se envolver em brigas, discussões, não quebrar nada, inclusive danificar material dos outros irmãos.
Naquela semana fatídica, segundo os ditames de minha genitora, fora eu o exemplo de boa convivência e como tal, a mim caberia escolher o mimo. Lá pelos idos dos setenta, nada de eletrônicos, rolezinhos ou algo que demandasse muito dispêndio de dinheiro, mesmo porque esse artigo era escasso para a quantidade de bocas a serem alimentadas. Mas isso nem passava pela minha cabeça e nada era mais importante do que saciar a minha vontade de me sobrepor à minha irmã, logo acima de cima, com quem eu competia ferozmente, e que na semana anterior havia pedido canjica – e eu odiava isso: não sei se ficava mais chateado pela vitória da minha irmã ou se tinha de, ao menos, provar daquela maçaroca!
Só que naquele dia, ao ouvir que eu é quem fora o exemplo, não tive dúvida: pedi em alto e bom som, e ainda eu fiz questão de soletrar (coisa que eu já vinha treinando há bom tempo): s-a-g-u! Enchi os meus pulmõezinhos, as bochechas, estufei o peito e pedi ‘sagu’ como prêmio. Não só pelo fato de ter sido apontado como o exemplo da semana, mas também por ele, o fato é que fazia tempo que não era eu o escolhido, penso que até havia certa artimanha da minha mãe, porque nenhum dos irmãos era contemplado duas semanas seguidas. Lembro-me até que ela exaltava uma das atitudes da semana para que os outros pudessem aprender com o irmão exemplo.
Tudo pronto: eu vencedor, a mãe se preparando para fazer o sagu e todos os irmãos com uma interrogação sobre as suas