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As irmãs Brontë - Charlotte e Emily sobretudo — constituem um exemplo clássico do que se quer dizer quando se fala na palavra gênio. Filhas de um pároco de aldeia, criadas numa região rural da província inglesa de Yorkshire - que até hoje guarda algumas semelhanças com o nordeste brasileiro - dificilmente essas moças simples poderiam ter a experiência de vida e sociedade que demonstram, Charlotte em seus famosos Jane Eyre e Shirley, e Emily não menos célebre Morro dos Ventos
Uivantes.
Talvez por isso haja, em ambas as autoras, uma certa ingenuidade, que leva literatos mais esnobes a fazerem-lhes restrições; mas pode-se dizer que é por isso mesmo que suas obras são tão famosas. O público sabe reconhecer o autêntico, e não vai atrás de sofisticações gratuitas, artifícios literários ou filosóficos, filigranas de beletrista. Jane Eyre é uma narrativa simples, direta — a história de uma jovem órfã pobre e nada bonita (como a própria Charlotte, que por pouco não chegava a ser feia), e sua luta em busca de afirmação e dignidade, numa época - a vitoriana — e num país
- a Inglaterra de até hoje — onde o sentimento de classe se ergue como uma barreira imposta não apenas de cima para baixo, mas também de baixo para cima.
Quando se fala em literatura vitoriana, geralmente se pensa em hipocrisia e moralismo, características que marcaram sobretudo essa época da história inglesa.
Acontece, porém, que o grande artista jamais se submete às fronteiras e preconceitos de sua época: quando não sabe, intui "que os valores morais mudam, e que o que é crime hoje pode vir a ser obrigatório amanhã - é isso que constitui a sua grandeza.
A uma primeira leitura, Jane Eyre parece conformar-se inteiramente aos padrões morais de sua época. A heroína, ao descobrir que seu amado é casado com uma louca, impõe um terrível freio à sua paixão e vai-se embora, com a afirmação de que as leis são feitas para os momentos de crise, e não podem ser mudadas nesses