Saber cuidar, cap 9
O ser humano-corpo-alma tem uma singularidade: pode sentir-se parte do universo e com ele conectado; pode entender-se como filho e filha da Terra, um ser de interrogações derradeiras, de responsabilidade por seus atos e pelo futuro comum com a Terra. Quem se esconde atrás do curso das estrelas? O que podemos esperar além da vida e da morte? Espírito é aquele momento do ser humano corpo-alma em que ele escuta estas interrogações e procura dar-lhes uma resposta. Outro dado suscita a dimensão de espírito: a capacidade do ser humano de continuamente criar sentidos e inventar símbolos. Diante do Rio Amazonas, ficamos totalmente fascinados, fazemos a experiência da majestade. Ao penetrar na floresta, contemplamos sua inigualável biodiversidade e ficamos aterrados diante da imensidão de arvores, de águas, de animais e de vozes de todos os timbres, fazemos a experiência da grandeza. Diante dessa grandeza sentimo-nos um bicho frágil e insignificante irrompendo em nós o temor e o respeito silencioso, fazemos a experiência da limitação e da ameaça. fazemos da pessoa amada uma divindade, transformamos o brilho do Sol num ouro em cascata e transformamos a dureza do trabalho numa prazerosa preocupação. Todas essas experiências são expressões do espírito que somos nós. Mas há uma experiência testemunhada desde os primórdios da hominização, a do Numinoso e do Divino no universo, na vida e na interioridade humana. Como não reconhecer por trás das leis da natureza um supremo Legislador? Como não admitir na ha dos céus a ação inteligente de uma infinita Sabedoria, e na existência do universo a exigência de um Criador? Não é isso um indício da presença de Deus em seu interior? O ser humano pode cultivar o espaço do Divino, abrir-se ao diálogo com Deus, confiar a ele o destino da vida e encontrar nele o sentido da morte. Cuidar do espírito significa cuidar dos valores que dão rumo à nossa vida e das significações que geram