Rousseou-resumo
“Nos séculos democráticos, quando os deveres de cada indivíduo para com a espécie são muito mais claros, o devotamento de um homem torna-se mais raro: o laço das afeições humanas se estende e se torna mais frouxo. Nos povos democráticos, novas famílias constantemente surgem do nada, outros nele caem incessantemente, e todas aquelas que permanecem mudam de face; a trama dos tempos se rompe a todo momento e o vestígio das gerações se apaga. Esquecem-se facilmente aqueles que vieram antes e não se tem idéia alguma daqueles que virão depois. Os mais próximos, apenas, interessam. Como cada classe vem a se aproximar das outras e misturar-se com elas, os seus membros se tornam indiferentes e como que estranhos entre si. A aristocracia fizera de todos os cidadãos uma longa cadeia que subia do camponês ao rei; a democracia desfaz a cadeia e põe cada elo à parte. À medida que as condições se igualam, encontra-se maior número de indivíduos que, não sendo mais bastante ricos nem bastante poderosos para exercer grande influência sobre a sorte de seus semelhantes, entretanto adquiriram e conservaram muitas luzes e bens para poder bastar-se a si mesmos. Estes nada devem a ninguém, e por assim dizer nada esperam de pessoa alguma; habituam-se a se considerar sempre isoladamente, e de bom grado imaginam que o seu destino inteiro está entre as suas mãos. Assim, não só faz a democracia a cada homem esquecer seus antepassados, mas lhe oculta seus descendentes e o separa de seus contemporâneos; constantemente o leva para ele apenas e ameaça encerrá-lo afinal, inteiro, na solidão