Rousseau e a ética da hipótese
e a ética da hipótese
RESUMO: O artigo aborda o aspecto ético do pensamento de Rousseau e seu comprometimento com o devir histórico a partir de alguns conceitos desenvolvidos nos Discursos Sur les sciences et les arts, e Sur l’origine et les fondements de l’inégalité, e ainda no Contrat social, tais como a visão negativa acerca das ciências e artes, as noções de estado de natureza, amor-de-si e vontade geral. Será analisada a originalidade deste pensamento que, em pleno racionalismo do século XVIII, não se pautava por dogmas nem por uma organização sistemática, mas sim por uma dinâmica própria e pela formulação de hipóteses que não podem ser comprovadas na prática, mas que se legitimam como expediente teórico e, sobretudo, ético, uma vez que vão ao encontro das necessidades do homem na sociedade moderna.
PALAVRAS-CHAVE: Rousseau. Ética. Século XVIII. Modernidade. Filosofia.
Introdução
O pensamento de Rousseau incorpora, de modo radical, o principal pressuposto iluminista de partir da razão para buscar em si mesmo os critérios que fundamentam as ações humanas. O radicalismo desse pressuposto, em
Rousseau, pode ser observado no fato de que ele não se engaja em tal busca visando atingir uma reflexão sistemática ou uma síntese. Ao contrário,
Rousseau nunca pretendeu ser um enciclopedista, ou um filósofo com pretensões de explicar a existência humana a partir de leis gerais, elaboradas segundo rigorosas experiências e observações. O que move seu pensamento é, antes de tudo, uma preocupação de matiz ético: encontrar um caminho para uma existência se não mais feliz, ao menos mais digna e igualitária no seio da sociedade moderna. É nesse sentido que Cassirer (1989, p.69) vê em
Rousseau “[...] o ético absoluto que o século XVIII produziu”.
* USP – Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas – Departamento de Letras Modernas. São Paulo – SP – Brasil. 05513-970 – ericastro@yahoo.com
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