Rousseau inicia o “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” com a explicação de uma distinção das duas desigualdades existentes na espécie humana: a desigualdade natural ou física e a desigualdade moral ou política. A natural ou física, é estabelecida pela natureza, e que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito, ou da alma; a outra, a desigualdade moral ou política, que depende de uma espécie de convenção, e que é estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo consentimento dos homens. Consiste esta nos diferentes privilégios de que gozam alguns com prejuízo dos outros, como serem mais ricos, mais honrados, mais poderosos do que os outros, ou mesmo fazerem-se obedecer por eles. Fica claro que a desigualdade natural não é o objetivo deste estudo de Rousseau, e sim, a desigualdade moral ou política. O autor descreve o homem natural como um ser solitário, possuidor de um instinto de autopreservação, dotado de sentimento de compaixão por outros de sua espécie, e possuindo a razão apenas potencialmente (instinto). Para Rousseau, não existem motivos que levem o homem natural a viver em sociedade, pois o homem natural vive o presente, é robusto e bem organizado, apesar de não possuir habilidades específicas, pode aprendê-las. É inocente, pois não conhece noções de bem e mal, e possui duas características que o distinguem dos outros animais: a liberdade e a perfectibilidade (aperfeiçoamento). Essa transformação de estado natural para social está associada à idéia de adaptação, pois o homem natural tinha como única preocupação sua subsistência, mas devido a fatores externos, foi obrigado a superá-las adquirindo, portanto novos conhecimentos. O homem natural aprendeu a pescar, caçar e por vezes, associar-se a outros homens, para se defender temporariamente. Surge então a ruptura do estado natural, que foi a construção de abrigos: “o primeiro que, tendo cercado um terreno, atreveu-se a