Romance e epopéia segundo bakhtin

Romance e epopéia segundo Bakhtin

Para Bakhtin, “O romance nasce de uma atitude nova, reflexiva e crítica, diante da linguagem, a partir do momento em que ela deixa de ser vivida interiormente, como um absoluto, para voltar-se para fora, compreendida como linguagem distanciada e relativizada. Historicamente, a gênese do romance está ligada às épocas em que o absolutismo autoritário da língua única, consubstancial de uma sociedade e de uma civilização, é colocado em questão pelo surgimento, no horizonte cultural, de uma ou várias línguas estrangeiras: a época helenista, o império romano, a aurora da renascença, enquanto as línguas nacionais da Europa ocidental substituem o latim. (...). Vê-se, pela primeira vez, os gêneros paródicos que, da antiguidade à idade Média e ao Renascimento, refletem a grande literatura no espelho deformante do riso. A paródia é o exemplo mais simples de uma linguagem bivalente onde o parodista sobrepõe sua intenção cômica à intenção séria da paródia. Ora, a paródia está ligada ao carnaval, quer dizer, a esta contracultura popular do riso. “É no riso popular que se deve procurar as autênticas raízes folclóricas do romance. É onde se elabora uma atitude fundamentalmente nova diante da linguagem, da palavra (...). Vê-se florir, aqui, a paródia e o travestimento de todos os gêneros elevados e de todas as imagens elevadas do mito nacional.” É na tradição carnavalesca representada notadamente pelo imenso domínio dos gêneros “cômico-sérios” da Antiguidade, tal qual a poesia bucólica, a fábula, o diálogo socrático, o diálogo dos mortos, a sátira menipéia que se situa, para B., a “pré-história do discurso romanesco”(...). É, em particular na sátira menipéia, genro ao qual ele liga, igualmente, o Satiricon de Petrônio, e que se caracteriza pela associação do grotesco, do fantástico e da profundidade filosófica que B. situa as raízes do romance polifônico de D.” pg.17

“Se B. não define os contornos de forma precisa é porque o romance não é