Revoluções Enlatadas
“(...) os homens fazem sua própria história, mas não a fazem [...] sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.” (O 18 Brumário – Karl Marx).
Creio, ou pelo menos espero, que a citação acima seja minimamente conhecida por quem quer que interesse esse breve texto, já que se trata de uma das passagens mais populares de Marx. Porém, o fato de ela ser famosa não confere à ela o nível de entendimento e aplicação que mereça; quantas vezes relegamos nosso entendimento à simples superficialidade, sem o aprofundamento e a vivência necessária para se adotar uma idéia? Quantas vezes compramos discursos historicamente consagrados, aplicamos à torto e à direita em todo tipo de situação, rotulamos, organizamos e simplificamos em nossas bibliotecas, porém sem fazer as devidas considerações do momento histórico em que o sujeito escreveu?
A citação acima, na verdade, é apenas para embasar uma defesa (ou ao menos um contra ponto) que ouso fazer, no ápice de minha condição de mero esboço de pesquisador, acerca da figura de Antonio Gramsci, a quem tenho dedicado algumas horas de leitura nos últimos meses. Por qual motivo? A constatação de que Gramsci é comumente definido no Brasil e no mundo, como “reformista”, “não revolucionário” e vez por outra até mesmo “não marxista”. Não vou me deter aqui em determinar o que é ou não marxismo, e nem ousar falar sobre a receptividade das idéias de Gramsci em todo mundo, já que isso não ocorre de maneira homogênea, mas esse tipo de interpretação, apesar de não dominante, é muito comum explicita ou implicitamente quando se cita Gramsci.
A vulgarização das idéias não poupa ninguém, e mesmo isso faz parte do processo de entendimento histórico e consagração de um autor clássico, ainda que não necessariamente traga benefícios sobre o aproveitamento de suas idéias. Quando falamos das idéias de Gramsci