Revolução sexual xx
A intervenção da epidemiologia e notadamente da biologia experimental na clínica médica, constitui talvez o fenômeno mais importante ocorrido no século XX, que por sua magnitude continuará afetando a sexualidade no século XXI. Principalmente na segunda metade daquele século, nosso imaginário foi provocado por numerosas proezas da biomedicina, que até então julgávamos reservadas ao domínio divino e/ou da natureza: pílula anticoncepcional, transplante de órgãos, barriga de aluguel, bebês de proveta, código genético, genoma, clonagem e quiçá o que mais está para surgir nesse processo intensivo de medicalização do social. Processo que afeta profundamente, além daqueles aspectos já apontados, as estruturas simbólicas que regem as identificações dos indivíduos (nomeação, filiação, maternidade e paternidade, identidade sexual) e que aponta para a emergência de problemas éticos, políticos e jurídicos decorrentes da necessidade de escolha entre aqueles que terão direito à vida e aqueles que serão eliminados (como é o caso dos embriões supranumerários nas tecnologias de reprodução assistida, ou dos pacientes selecionados nos serviços de transplante de órgãos, e, no geral, daqueles que terão acesso ou não aos "progressos da ciência").
O interesse que essas descobertas despertam na mídia, seus objetivos terapêuticos e a forma de divulgá-las produzem efeitos, cuja principal conseqüência é a formação de uma demanda por esse tipo de tecnologia, suscitando desejos, ou seja, mecanismos simbólicos que permitem fazer aparecer, como emanando da liberdade dos indivíduos, as finalidades da experimentação biomédica. No caso das chamadas "novas tecnologias reprodutivas" (NTRs), por exemplo, a forma (sensacionalista, simplista e benevolente) utilizada em sua divulgação, juntamente com a abordagem médica para o "tratamento" da infertilidade, contribui para transformar a oferta médica das NTRs em demanda de homens e