Revisão

Ariovaldo tinha dois filhos: Joel e Júlio. O mais moço, Júlio, saiu dia desses com o pai para observarem o campo, quando Ariovaldo, percebendo a inquietação do filho perguntou: Filho, o que te incomoda? Vai, fala, sei que você tem algo pra dizer. Júlio então lhe disse: Pai, eu estou querendo aquilo que me pertence. A minha parte nos nossos negócios. Ariovaldo, então surpreso, reuniu os dois filhos no mesmo dia e deu a cada um o que lhes era justo. Alguns dias depois, Júlio despediu-se Joel, dos empregados e chamou seu pai num canto e disse: Hoje, eu parto daqui, irei para a capital, tentar a vida, respirar novos ares... Sem esperar respostas de seu pai, saiu, desaparecendo na curva da estrada. Sua vida na capital foi frívola. Gastou seus bens rapidamente, sem se aperceber, mergulhado na dissolução de seus desejos. Conheceu várias Marias e Anas, algumas Marianas... Conheceu a vida vista pela ótica convexa dos copos cheios, viu pessoas passarem diante dele sem vê-los realmente, pois, que estavam atrás da turva fumaça inebriante... Eram anos de chumbo. O arrocho era palavra aprendida e reaprendida nas ruas da cidade. E Júlio tendo gastado tudo o que tinha, passou fome, saiu então à cata da rutilante moeda que lhe poupasse a fome e só encontrou miséria. Mas, em meio a miséria, um homem de longe, que tinha negócios na cidade, enfardado em belos trajes, lhe propôs trabalho fácil. Foi assim que ele passou a ser michê nas esquinas escuras e malfadadas da metrópole. Numa noite dessas, após se vestir, sentou-se ao lado da cama e deixou rolar uma lágrima magra por seu rosto igualmente magro. Virou-se, então, para o seu cliente e vencendo uma certa timidez repentina, ousou perguntar seu nome: Meu amigo, como se chama? No que o homem respondeu: Não sou teu amigo, meu nome é Duzentos Cruzeiros, não te basta? Júlio então disse: Queria conversar com alguém... Sem responder, o homem pegou o seu paletó e saiu. Júlio ficou só. Ficou somente ele, uma