Resumo. Individualismo e Cultura
VELHO, Gilberto. Individualismo e Cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999, Cap. 9, p. 123 – 132.
Para que o investigador garanta que as conclusões do seu trabalho sejam objetivas e de acordo com a realidade, é necessário que se estabeleça uma distância mínima entre o objeto estudado e suas próprias convicções, evitando assim, que se deturpe o verdadeiro cenário da pesquisa. Para tanto, o método quantitativo, por ser de caráter neutro e científico, proporciona essa distância e comprometimento com a realidade. Por outro lado, a observação participante, a entrevista aberta, o contato direto com o universo investigado são marcas registradas da Antropologia e fazem do antropólogo um pesquisador que vai além de seu “gabinete” para entender a cultura do outro. No entanto, a ideia de tentar se colocar no lugar do outro para entender suas experiências e peculiaridades requer um esforço maior, pois trata-se de um problema que envolve a distância social e a distância psicológica do investigador e o objeto investigado. Devemos compreender que a realidade, seja familiar ou exótica, é sempre filtrada por um ponto de vista do observador, portanto, percebida de maneira diferente e interpretada sob uma dimensão provida de subjetividade. Destarte, vale a pena insistir na relativização do exótico e também do familiar, pois o fato de dois indivíduos pertencerem a mesma sociedade não significa que estejam mais próximos do que se fossem de sociedades diferentes, o que permite-nos observá-lo sem deveras preocupações de fazê-lo obtendo, rigorosamente, resultados imparciais e neutros. Mesmo com essa crescente necessidade de relativizar o objeto de investigação, a Antropologia deve se ater em perceber as mudanças sociais como consequências das interações em sociedade e das decisões cotidianas, promovendo assim, transformações (e não evoluções), o que fazem da cultura um fenômeno dinâmico e “multiobservável”.