Resumo - as dores do parto
O Brasil foi regido primeiro como uma feitoria escravista, habitada por índios nativos e negros importados. Depois como um consulado, onde o povo sublusitano vivia como um proletariado externo dentro de uma possessão estrangeira. As aspirações de seu povo jamais foram levadas em conta, por só haver interesse no enriquecimento da Metrópole, ou seja, só era digno de atenção e zelo interesses da feitoria. O que estimulava o aumento da força de trabalho escravo, por ser o que gerava lucros através do próprio trabalho ou da compra e venda destes. Nunca houve no país um conceito de povo, englobando e atribuindo direitos aos trabalhadores. Nem mesmo o direito elementar de trabalhar para nutrir‐se, vestir‐se e morar.
A sociedade era, de fato, um mero conglomerado multiétnico, ativado pela intensa mestiçagem pelo genocídio mais brutal na dizimação dos povos tribais e pelo etnocídio radical na descaracterização cultural dos contingentes indígenas e africanos.
Alcançam‐se, assim, paradoxalmente, condições ideais para a transfiguração étnica pela desindianização forçada dos índios e pela desafricanização do negro, que perdida a sua identidade, se veem sentenciados a ter uma nova etnicidade que englobe todos eles. Assim , índios, africanos, mestiços, que perderam sua cultura e passam a se multiplicar com os brancos. Tornam-se uma massa humana sem identidade ou com esta apropriada dos brancos.
O núcleo luso, formado por muito poucos portugueses que aqui entraram no primeiro século, operacionava sua espoliação econômica, querendo impor a todos sua fôrma étnica e sua forma civilizatória. Ocorre, surpreendentemente, que esse povo nascente, em lugar de uma Lusitânia de ultramar, se configura como um povo em si, que luta desde então para tomar consciência de si mesmo e realizar suas potencialidades.