Ressentimento segundo Maria Rita Kehl
Ressentimento é uma espécie de magoa, mas uma magoa que não se supera. Uma magoa que a pessoa ressentida não quer esquecer, pois tem algum gosto em relembrar. É como se o individuo tivesse interesse na manutenção dessa dor.
Qual a função dessa magoa viva, dessa memoria dolorosa? Ela revela um prazer através desse movimento acusatório, acusar o outro é um prazer do ressentido. Esse prazer em acusar revela o desejo de vingança do ressentido, que não a admite. Revela também um lado narcísico, uma vez que a culpa quando algo dá errado sempre é do outro, nunca dele (ressentido). O ressentido não enxerga as faltas da vida, não enxerga que nem sempre uma escolha é a correta, para ele sempre haverá um culpado, pois ele se isenta de qualquer responsabilidade, não se enxerga como responsável pelo fracasso da sua vida. No ressentimento, o individuo preserva o ideal individualista, mas se fracassar a culpa é do outro não dele.
É um afeto característico da modernidade, uma vez que vivemos em uma sociedade narcísica, onde cada um tenta responder a este ideal de ser alguém especial, alguém que se destaca que foi feito para não sofrer, que nasceu para ser feliz. É uma sociedade extremamente individualista, de berço narcisista. Uma pessoa depender da outra é constitucional, é parte do humano, mas nas sociedades individualistas essa condição (dependência) é apagada, pois as pessoas querem acreditar que é possível alcançar um objetivo ou trilhar um caminho de maneira individual, sem interferência dos nossos semelhantes. O que é um fracasso, pois sempre haverá alguma rede de apoio que ajudou no alcance desse objetivo. A ideia de que fazemos o nosso destino e chegamos lá é uma falácia (mentira). No ressentimento o sujeito preserva o ideal individualista, pois não tem que se espelhar na sua incompletude.
A revolta é diferente do ressentimento. A revolta é uma manifestação ativa vital que pretende mudar uma condição opressiva ou injusta. O