Resenhas e trabalhos
Tartufo redivivo e sempre atual - Antônio Hohlfeldt - Jornal do Comércio (10/6/2011)
Molière escreveu Tartufo em 1664, já em sua maturidade (ele morreria em 1673). Provocou a ira de todos os que rodeavam o rei, na corte. A Igreja fez o possível para ver a peça proibida, mas, com o beneplácito de seu protetor, a obra venceu, não só os inimigos da época como também o tempo, o mais radical e decisivo avalista de qualquer realidade. Foi justamente essa a peça escolhida pelo diretor Gilberto Fonseca para dar continuidade ao projeto As três batidas de Molière, iniciado em 2008, com a montagem de O avarento, que já tive a oportunidade de elogiar. Fonseca e o Grupo Farsa poderiam dormir nos louros conquistados antes e repetir a fórmula. Mas, ao contrário, o grupo ousou não apenas buscar uma outra leitura de um autor que já lhe era conhecido como também experimentou renovar a sua leitura, do ponto de vista do espetáculo proposto. O resultado é entusiasmante e altamente compensador. Trata-se de um trabalho divertido, inteligente e muito bem ritmado, que foge à linha comum das encenações dos grandes textos molierescos. Fonseca manteve a linha da farsa, mas renovou-a, vestindo-a com trajes contemporâneos: uma banda acompanha ao vivo o elenco, que se transforma em excelente conjunto musical. Os personagens ganharam características bastante atuais, como o filho punk ou o farsesco Tartufo, muito próximo de um pastor de qualquer seita evangélica. Fonseca não teve medo de também atualizar e aproximar o texto do seu público, cortando passagens, inserindo palavrões engraçados e evidenciando situações que, no texto original, eram apenas sugeridas. Durante pouco mais de uma hora, em um palco absolutamente nu, a não ser pelo pano branco que divide a cena do ator para o espaço da banda, assistimos a um verdadeiro carrossel de fingimentos e artificialidades, lideradas sempre pelo astuto Tartufo. O resultado, na medida em que Fonseca esmerou-se em ter um