Resenha Sobre A Revolta Da Vacina

Resenha sobre a Revolta da Vacina - 1904

José Murilo de Carvalho em Os Bestializados (Companhia das Letras, 1987) nos fornece um excelente retrato das manifestações de rua da época da Proclamação da República no Rio de Janeiro. Mais ainda, o autor chama a atenção para o lado associativo e participativo do povo que sempre foi acusado de apático e isolado dos acontecimentos políticos. O republicano Aristides Lobo manifestou na época o seu desapontamento com a maneira em que foi proclamado o novo regime. Segundo ele, o povo assistia tudo bestializado. Outros, inclusive estrangeiros, diziam que o Brasil não tinha povo. A República prometia trazer a participação popular baseada nos ensinamentos da Revolução Francesa. Fato que não aconteceu. Desapontando os entusiastas Silva Jardim e Lopes Trovão. No entanto, não é justo considerar o povo como apenas vítima impotente.

O Rio na época era a capital com cerca de 500 mil habitantes. Era o centro da vida nacional e supostamente o espaço propício para o desenvolvimento da cidadania. Como demonstra bem Carvalho a cidade foi palco de muita agitação de rua nos anos que seguiram a Proclamação da República. Com a libertação dos escravos e chegada de milhares de imigrantes a cidade possuía um enorme contingente de desempregados e subempregados. A população masculina era bem superior à feminina, impedindo a formação de muitas famílias regulares. A cidade caracterizava-se pela enorme quantidade de ladrões, prostitutas, malandros, ambulantes, pivetes. O mais típico personagem era o capoeira. Com o fim do Império acontecia também uma febre especulativa e a inflação atingia níveis insuportáveis. Os capoeiras e os anarquistas eram perseguidos, presos e deportados. A polícia reprimia a população de rua, exceto os que prestavam serviços para políticos e para a própria polícia. As expectativas de maior participação popular e de democracia estavam longe de serem alcançadas.

João do Rio e Lima Barreto souberam retratar bem a população