Resenha Saber Ambiental - LEFF
especialmente, a formação do “saber ambiental”. A variedade temática entra em choque com a complexidade que lhe é inerente e o formato de uma coletânea de ensaios, por mais que estes tenham sido retrabalhados como capítulos complementares entre si, impede o autor de dar um tratamento analítico adequado a macroconceitos como “paradigma” e
“globalização”. Apesar desta circunstância – e também do fato de que as teses centrais de Leff aparecem de forma um tanto quanto redundante em cada capítulo –, a capacidade de síntese, a perspicácia e a experiência internacional do autor permitem compensar a redundância, em vários momentos, com passagens de forte densidade teórica.
Leff define o ambiente como uma “visão das relações complexas e sinérgicas gerada pela articulação dos processos de ordem física, biológica, termodinâmica, econômica, política e cultural”. Este conceito ressignifica o sentido do habitat como suporte ecológico e do habitar como forma de inscrição da cultura no espaço geográfico. A partir deste ponto de vista, o autor toma uma posição frontalmente contrária ao “fato urbano”, por considerálo insustentável. A cidade, diz Leff, converteu-se, pelo capital, em lugar onde se aglomera a produção, se congestiona o consumo, se amontoa a população e se degrada a energia. Os processos urbanos se alimentam da superexploração dos recursos naturais, da desestruturação do entorno ecológico, do dessecamento dos lençóis freáticos, da sucção dos recursos hídricos, da saturação do ar e da acumulação de lixo. O autor vê na urbanização uma expressão clara da acumulação de capital e considera a globalização da eco-
Saber Ambiental.
Enrique Leff.
Petrópolis, Vozes, 343 p., 2001.
SÉRGIO LUÍS BOEIRA*
Enrique Leff, doutor em Economia do
Desenvolvimento pela Sorbonne, desde
1986 coordena a Rede de Formação
Ambiental para a América Latina e o
Caribe, do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). Leff leciona Ecologia Política e Políticas