Resenha De Enrique Leff
O livro Ecologia e Capital de Enrique Leff é um marco não só no campo do conhecimento ambiental, mas também no debate teórico- político contemporâneo por trazer uma abordagem que consegue transitar com rara desenvoltura desde o conhecimento advindo das ciências naturais ao das ciências sociais. A formação de Enrique Leff em engenharia química e seu doutorado em Economia do Desenvolvimento na Sorbonne devem ser lembrada ao leitor que encontrará no livro um refinamento filosófico raro nos dias que correm ao mesmo tempo em que é necessário diante do desafio ambiental contemporâneo. Afinal, a crise ambiental contemporânea é uma crise do seu (modo de produção) de conhecimento, como sustenta o autor ao longo deste livro.
Enrique Leff conseguiu compreender o significado da revolução dos anos sessenta quando novas perguntas foram levantadas quando alguns acreditaram já terem todas as respostas. E mais, soube entender desde o primeiro momento que a crise que as lutas sociais dos anos sessenta colocaram nas ruas com suas “barricadas do desejo” eram mais que uma crise do capitalismo. Era uma crise civilizatória e uma crise do próprio (modo de produção de) conhecimento que havia olvidado a inscrição da sociedade na natureza que, hoje, se mostra concretamente como aquecimento global.
Ecologia e Capital, publicado originalmente em 1986, incorpora a contribuição de uma epistemologia crítica que Enrique Leff vem desenvolvendo desde 1975 quando publica seus primeiros artigos sobre a crise do (modo de produção de) conhecimento científico que não só ignorou a inscrição da sociedade na natureza, como disciplinarizou de tal forma o conhecimento com uma divisão do trabalho científico que, mais do que solução, se tornou parte do desafio que a humanidade hoje se defronta. Enrique Leff antecipa em Ecologia e Capital uma teoria da complexidade ambiental muito antes que a teoria da complexidade estivesse em moda. E o