Resenha os bestializados, de josé murilo de carvalho
“Os Bestializados, de José Murilo de Carvalho”
Neste texto, José Murilo de Carvalho nos mostra como ocorreu a relação entre Estado e povo, a ligação entre cidadania e o republicanismo instaurado no Brasil. Citados com “bestializados” pelo autor, o povo na maioria das vezes se via alheio aos acontecimentos e decisões políticas. Pelo ideário republicano, o povo deveria ter sido o principal agente de instauração do republicanismo. Em teoria, as classes populares deveriam ter sido protagonistas no processo. Não se viu isso no Brasil. O novo regime, que deveria ter sido muito aclamado pelos cidadãos, acabou sendo observado de longe, sem a compreensão do que estava ocorrendo de fato. Mais uma prova de que o povo estava alheio aos fatos políticos. Segundo o sábio francês Louis Couty, residente no Brasil há vários anos, a situação sociopolítica da população poderia se resumir em uma frase: “O Brasil não tem Povo”. Por ser francês, seus olhos não conseguiam ver no Brasil aquela população ativa e organizada a que estava acostumado em seu pais de origem. Talvez essa visão possa ter sido ocasionada por algum etnocentrismo francês, mas Couty tinha pleno interesse nas mudanças sociais e políticas que fermentavam ao seu redor. A falta de interesse, ou até mesmo falta de capacidade, do povo brasileiro nas mudanças políticas e sociais tinha como natureza a concepção errônea de cidadão na época. O relacionamento entre Estado e o cidadão, o cidadão e o sistema político, cidadão e a própria atividade política eram problemáticos. Essa relação poderia ser considerada maniqueísta, segundo a qual o Estado é visto como vilão e a sociedade como vítima indefesa. Por essa perspectiva a inexistência da cidadania é simplesmente atribuída ao Estado. A visão maniqueísta não é satisfatória, como todas as dicotomias atribuídas ao fenômeno social. Em teoria, ela separa o que são partes do mesmo todo, lados da mesma moeda. O maniqueísmo inviabiliza mesmo qualquer noção de