Resenha Hannah Arendt
Ora, é muito raro, no cinema, um épico do pensamento. Se levarmos então em conta o momento cultural que estamos atravessando, o filme é um acontecimento. A interpretação da atriz Barbara Sukova – que já havia representado Rosa Luxemburgo/1986, outro grande filme de Von Trotta, e que levou o prêmio de melhor atriz no Fetival de Cannes – é simplesmente extraordinária: economia de gestos e de palavras, comunicação precisa e lapidar.
Hannah Arendt, o filme, tem dois grandes momentos:1) com um grande interlocutor, refiro-me a M. Heidegger, e 2) um ¨fato político¨ memorável: a prisão de Adolf Eichmann em Buenos Aires e seu julgamento em Jerusalém. Vale dizer, Margarethe von Trotta fez um recorte histórico e dramático da trajetória da pensadora política. Assim, em flashbacks, Trotta nos remete à relação de Hannah Arendt com o filósofo alemão M. Heidegger: o professor que a ensinou a pensar e que jamais deixou de ser para ela o mestre de um novo pensar. O outro momento importante do filme é a ida de Hannah Arendt, em 1961, como repóter da revista New Yorker, para assistir ao julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann, em Jerusalém, e então trazer à tona uma das características do homem moderno e coletivo que, no extremo da obediência e da superficialidade, simplesmente não é capaz de pensar e de fazer julgamentos morais.
I.a) Hannah Arendt e M. Heidegger
Ambos os momentos e ambos os encontros são tensos e requereram de Hannah Arendt muita coragem, pois a colocaram em um mar de