Resenha - Filme Lixo Extraordinário

Lixo Extraordinário

O artista plástico Vik Muniz realiza algo inimaginável de tão original nesse documentário onde o principal tema, a arte, é mostrada de uma forma completamente diferente e por uma perspectiva igualmente distinta. Lixo extraordinário pareceu vir para romper com os limites impostos pelos conceitos de arte formal, onde o belo geralmente é representado pela extrema simetria, pela limpeza visual e pela uniformidade de seus elementos. Com o apoio de catadores de material reciclável de um dos maiores aterros controlados do mundo, localizado no Jardim Gramacho, o artista realiza algumas obras de arte construídas com matéria prima vinda do lixo.
Vale destacar a belíssima fotografia do filme, mesmo em um cenário tão ríspido e visualmente poluído, as câmeras conseguem ressaltar a beleza daquele emaranhado de cores característico de lixões. Os enquadramentos no horizonte tomado pelo lixo e os enfoques nas geniais figuras construídas com os materiais oriundos do mesmo são belíssimas, e talvez seja esse um dos grandes motivos para a beleza gráfica do documentário ter sido tão comentada e premiada.
Um fato curioso sobre o aterro no qual Lixo Extraordinário foi filmado, é que em 2004 o mesmo foi cenário de outro documentário igualmente premiado, Estamira dirigido por Marcos Prado. Curiosamente os dois conseguem com maestria mostrar que o belo surge daquilo que é extremamente conceituado de modo comumente preconceituoso como horrível. Enquanto em Estamira, o foco filosófico é na consciência social de uma senhora moradora de um lixão, em Lixo Extraordinário a filosofia entra de modo a destruir todos os preconceitos que nos impedem de fazer verdadeiros juízos estéticos.