RESENHA DRACULA
Assistindo ao filme Drácula1, do diretor Francis Ford Copolla, de 1992, pode ocorrer ao espectador um questionamento pertinente: sabedor dos riscos que correria em terras distantes, longe de seus próprios domínios e em meio à civilização, por que o vampiro atrai para seu castelo apenas Jonathan Harker, o noivo, e não Mina, seu real objetivo? Seria menos complicado e mais eficiente se o Conde elaborasse uma estratégia que fizesse o casal visitá-lo: ao noivo, faria com que desaparecesse de alguma forma; à noiva, daria a chance de retomar junto a ele um relacionamento que fora interrompido tragicamente quatro séculos antes.
Que fique claro, então, desde já, que Willhelmina era efetivamente uma reencarnação de Elisabeta, a amada de Vlad Dracul (Drácula), e que a viagem de Harker à Transilvânia foi meticulosamente arquitetada pela Criatura – a empresa imobiliária já havia enviado Renfield, que, por não atender aos interesses perversos (ou amorosos?) do monstro, foi vampirizado e mandado de volta. Isso posto, mesmo assim a pergunta persiste: por que somente Jonathan?
Ao lembrar do enredo para tentar responder, antes de classificá-lo de falho ou inconsistente, é aí, no entanto, que surgem boas (senão excelentes!) possibilidades de explicações à questão inicial. E mais: a partir dessa análise, verifica-se a genialidade da obra, baseada no livro de Bram Stoker, de mesmo nome, publicado em 1897.
À época em que o livro foi dado ao público, vivia-se a Era Vitoriana. Entre as características que esse período histórico traz, uma delas está relacionada à prática sexual. A sociedade, inibida por imposições principalmente de ordem religiosa, via (ou ainda vê?) no sexo uma dualidade dificilmente conciliável: o prazer associado ao pecado. Em extremos, afirma-se que "a virgindade foi promovida pelo clero católico ao status de santidade máxima, estado que todo cristão deveria almejar"2 Naturalmente, até o vampiro seguia esse