Resenha Domitila
Injustiçada, ainda assim, intrépida. Domitila, personagem central do livro “Se me deixam falar” é um exemplo claro da luta contra a repressão social, bem como sexual. Uma mulher, que mesmo sem alto grau de instrução, carrega junto a si ideais de igualdade, sendo ainda capaz de resistir à violência física e psicológica para garantir uma realidade mais digna e justa. Casada com um minerador, a boliviana é exposta a extrema pobreza e ao menosprezo pelo poder dominante. O governo não atribuía valor a esses trabalhadores que constituíam a base de sua economia, e com o advento do regime militar, qualquer expressão de contrariedade ou revolta passou a ser intensivamente reprimida. Contudo, a dona-de-casa encontrou forças para lutar, ainda que sofrendo todo tipo de punição e atrocidades, em nome de todos que padeciam na mesma situação. Enquanto os mineradores sofriam com elevadas cargas de trabalho, falta de equipamentos, moradias inadequadas e pobreza excessiva, suas esposas se uniram para discutir e agir contra tal exploração. O sindicato das donas-de-casa promoveu algumas revoltas contra a empresa. Domitila era a principal líder desses movimentos, e assim como ela própria destaca, mesmo sem conhecer os pilares do comunismo, defendia a igualdade, onde o homem produzisse em confraternização, sem o controle de uns sobre os outros. Domitila passa a ser perseguida, sendo acusada de conciliação com comunistas, mas isso não a fez abandonar suas causas. Seus ideais superavam seu medo. Continuou protestando, se rebelando contra a exploração e a falta de liberdade de expressão. Sua luta resultou em uma prisão, agressões, problemas psicológicos, e além de tudo, perdeu um filho após um espancamento. Foi apontada como âncora de países comunistas, enquanto estava apenas enfrentando um caminho tortuoso para conquistar uma vida melhor. Ela também lutou pela liberdade e valorização feminina.