Resenha do filme Sherlock Jr
Por Nina Flor
Um filme que combina efeitos especiais, edição de precisão, coreografia acrobáticas em cenas de ação e uma atmosfera surrealista elaborada para explorar a relação entre os sonhos e a realidade. Soa familiar mas não se trata de Incepcion (2010), mas sim da comédia silenciosa Sherlock Jr., dirigida por Buster Keaton em 1924.
Sherlock Jr. vai além do jogo de aparências onde sonho e realidade se confundem. Keaton também questiona a natureza do cinema como arte representativa, encenando o processo de exibição do filme como uma forma de auto consciência (Hearts and Pearls sendo um filme dentro do filme) e evidencia a forma como o cinema nos transporta para a sua realidade (o personagem imita os gestos dos atores).
A polarização sonho/realidade está presente desde o início no cotidiano do projecionista, logo no primeiro intertítulo sabemos que trata-se da estória de um rapaz que trabalha em um cinema mas estuda para ser um detetive no futuro. O desejo de se tornar detetive confunde realidade e ficção, causando situações absurdas, como a cena em que entrega o anel de noivado a namorada e em seguida uma lupa para que ela possa enxergar o pequenino diamante nele, ou na cena em que tenta desvendar o furto do relógio do seu futuro sogro usando regras do seu livro “How-to-be a Detective”.
O personagem já vive em dois mundos desde o início do filme, o de projecionista e o de aspirante a detetive. Isso só vem a se radicalizar mais adiante, quando os dois mundos se dividem entre o real (projeconista) e o sonho (detetive).