Resenha do Filme Cria Corvos
O filme Cria Corvos (1976), dirigido por Carlos Saura, retrata as relações familiares, seus conflitos e lutos por meio da visão de uma criança. Assim, Ana, personagem principal e ainda criança, primeiramente vivencia a morte de sua mãe, a qual agonizou de dor antes de falecer. Além disso, essa mulher chorou ao seu marido e pai de Ana, Anselmo, dizendo que estava doente e que iria morrer. A menina presencia, então, cenas conflituosas entre seus pais – representadas por um pai muito ocupado com os serviços militares e sua mãe – doente e ávida por uma maior atenção e carinho provenientes do marido.
Tempos depois, coincidentemente com o desejo de Ana ou não, Anselmo também morreu e, antes disto, foi “visto” por ela tendo relações extraconjugais. A partir desses acontecimentos – a menina e suas duas irmãs, Maite e Irene – passam a morar com uma avó portadora de necessidades físicas e cognitivas especiais e uma tia, Paulina. Ao mesmo tempo em que percebi esta mulher como rígida e exigente na educação das sobrinhas, senti sua vontade de querer “o melhor” para elas. Entretanto, Ana passa a desejar a morte (real ou não) da tia. Talvez na tentativa de elaborar psiquicamente os lutos vivenciados – em especial o luto materno – a criança em questão fantasia diversas vezes com a mãe. Penso que esses momentos parecem, a princípio, confortar a pequena, mas quando terminam por algum instante, aumentam o desejo da mesma em ver a tia morta: Ana queria a mãe, não a tia.
Outro fato que destaco é a presença de pés de galinha na geladeira da casa de Ana, suas irmãs, sua avó e sua tia. Visando alimentar seu porquinho-da-índia, Roni, Ana abre a geladeira e pega folhas de alface: são nesses instantes que os tais pés de galinha ficam visíveis. Uma imagem sinistra e sentimentos ambivalentes referentes à morte e à vida são representados nessas cenas. Em acréscimo a isto, Ana parecia olhar para esses pés, com possibilidade de ter pensado também ser a