Resenha de A conferência titular
Para se entender poética é necessário que haja uma discussão acerca do real. O poético é todo o tempo manifestação do real. Isso se dá porque é a partir do real que se pode falar de qualquer coisa, nunca fora dele. É nele que nos situamos, é nele que estamos, é nele que somos. Ser é sempre ser real, ou melhor: ser é sempre ser, e necessariamente compreende não-ser, de modo que não-ser não se faz possível sem ser. O não-ser também é, senão sequer poderíamos pronunciá-lo. Já que estamos falando do real, devemos discutir o termo: o que é real? E, por consequência: o que é realidade? Mais ainda: o que é realização? É imprescindível que essas questões sejam trastadas conjuntamente. De um ou de outro modo, real, como dito acima, é tudo o que é, e também todos os modos em que o não-ser torna-se presente, enunciado, anunciado, pronunciado. Ser pronunciado, anunciado ou enunciado é, antes de mais nada, enunciar-se. Real é aquilo que se enuncia, se anuncia ou se pronuncia. A voz falada aqui não é a voz ativa, como de costuma, mas uma voz neutra, que é usada para falar das coisas como tal como elas se fazem presença. Nem por isso deixa de ser a voz dos humanos, pois se fazem presentes como qualquer outra coisa: constituindo espaço-tempo. Devemos demonstrar isso discutindo o real como questão concreta e poética. Assim sendo, devemos pensar a palavra em seu fazer histórico. “Real” é uma palavra proveniente do latim res, que diz coisa. Coisa é aquilo que, em se causando, é capaz de causar, produzir, trazer concretamente à presença, tornar-se presente, fazer-se. Dessa maneira, res é ser e, não por acaso, é a tradução feita pelos latinos para a expressão tò ón – o ser. É um movimento indubitavelmente concreto. Concreto é o que se faz crescer, é dinâmica de con-crescer, crescer com, em qualquer direção que seja, para cima, para baixo ou para os lados. O que con-cresce cria espaço, cria tempo. Não, simplesmente, ocupa