Resenha crítica "Eu, o Supremo"
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
Resenha: Eu o Supremo, de
Augusto Roa Basto.
Karina Cabral Silveira, nº USP 7620384
Resenha crítica: Eu o Supremo. BASTOS, Augusto Roa. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.
A obra de Augusto Roa Bastos, Eu o Supremo, retrata minuciosamente o governo e o cotidiano do general José Gaspar Rodríguez de Francia, a partir da perspectiva das memórias deste. Faz-se necessário apresentar brevemente essa figura central do romance para melhor situá-lo. O General Francia participou do movimento de independência do Paraguai sobre a Coroa espanhola, em 1813, e desde então, passou a governar o país com mãos de ferro até sua morte, em 1840. Era um advogado e um intelectual ilustrado. Formado pelo Colégio Jesuíta de Córdoba na Argentina, era admirador dos iluministas franceses e em relação a Napoleão, regularmente colocava-se como seu compadre e até como seu seu inspirador, como é verificável em diversas passagens do livro. Visando a construção de um Paraguai moderno, o seu governo foi marcado por grandes projetos, entre eles: a construção da primeira linha ferroviária no Continente (1826); o desenvolvimento da indústria naval; a distribuição de terras; um programa de ensino público gratuito, que em 1820, atingiu níveis de analfabetismo em crianças até catorze anos de idade. No entanto, apesar de todos esses fatores mencionados, é também inegável que seu governou ocorreu de forma autocrática, repressora, com perseguição política, religiosa, cultural e empresarial, e personalista, Ele era o Estado.
A primeira vista, a obra pode parecer uma apologia ao Supremo Ditador. Pois ao fazer uma autobiografia ficcional de Francia que se vangloria a cada página e ostenta a sua posição Suprema, Roa Bastos pode causar a falsa impressão de que as palavras da personagem são as suas. Entretanto, a real posição do autor sobre o ditador ecoa em suas ironias