Resenha Aimé Cesaire
Escrito na primeira década posterior à Segunda Guerra Mundial, quando se intensificava a luta pela emancipação das colónias europeias na Ásia, na África, no Oriente Médio e nas Antilhas, o ensaio de Cesaire guarda consigo uma actualidade muito profunda até aos dias que correm.
É indiscutível, porém, que a opressão imperialista assumiu novas configurações nas últimas décadas do século XX, privilegiando formas dissimuladas de domínio indirecto, através da dependência económica e financeira, das pressões diplomáticas e militares, da invasão cultural e tecnológica e da aliança com fracções das classes dominantes locais.
Apesar dessa mudança na forma principal da dominação imperialista, com o trânsito do colonialismo para o neo-colonialismo, a denúncia erudita e indignada de Aimé Césaire conserva sua terrível actualidade. Oferece, inclusive, uma perspectiva iluminadora para a compreensão de tragédias recentes, como as invasões do Iraque e do Afeganistão, a nova cruzada contra as nações árabes e islâmicas (os tumultos na Síria, Egipto e mesmo na Líbia). A argumentação de Aimé Césaire resistiu ao transcurso dos anos por causa da perspectiva histórica e abrangente adoptada por ele e exposta já nos primeiros parágrafos de seu ensaio:
Uma civilização que se mostra incapaz de resolver os problemas que suscita seu funcionamento é uma civilização decadente. (…) O fato é que a civilização chamada ‘europeia’, a civilização ‘ocidental’, é incapaz de resolver os dois principais problemas que sua existência originou: o problema do proletariado e o problema colonial.
Um dos méritos de Aimé Césaire é que ele não se limita a recordar os métodos violentos, a espoliação material ou a devastação cultural efectivados pelo transbordar colonial das grandes potências europeias, a que se seguiu no século XX gradativamente, como indica ele com clarividência, a expansão neo-colonial e concorrente dos Estados Unidos. Aimé Césaire vai além e ressuscita citações chocantes