Representação: o poder do olhar
Luciane Sippert
Neste texto pretendemos refletir sobre representação e o poder do olhar a partir do filme “O Bravo”. Aqui, representação é entendida como inscrição, marca, traço, significante, e não como processo mental, ou seja, é a face material, visível e palpável do conhecimento. Quando se fala em representação volta-se para a relação entre o “real” e a “realidade” e as formas pelas quais esse “real” e essa “realidade” se tornam presentes para nós – re-presentados.(cf. Silva, 2003, p. 32).
O filme de Jonny Deep retrata a história de um homem que vivia em uma situação miserável com sua família, em um lixão, juntamente com outras pessoas que também estavam identificadas com essa situação degradante. Situação esta, que leva o personagem principal a se vender para um homem branco/capitalista, que sentia prazer em fazer os outros sofrerem até a morte, especialmente homens pertencentes a culturas subjugadas socialmente.
Neste contexto, podemos tentar entender a “política de identidade” (cf. Silva, op. cit). Embora haja uma revolta das identidades culturais e sociais subjugadas contra os regimes dominantes, são estes que possuem o direito de representar, que têm a voz e o poder de decisão – representação como “delegação” – enquanto os diferentes grupos culturais e sociais são simplesmente apresentados nas diferentes formas de inscrição cultural: nos discursos e nas imagens pelas quais a cultura representa o mundo social – representação como “descrição”. Essas duas dimensões de representação estão intrinsecamente ligadas, pois quem tem a delegação de falar e de agir em nome do outro dirige, de certa forma, o processo de apresentação e de descrição do outro, como destaca Silva (2003) “quem fala pelo outro controla as formas de falar do outro” (p. 34). Assim, os pressupostos capitalistas, tais como o desejo de consumo, a valorização da matéria, contrapõem-se a uma cultura mais humanizada, no caso do filme,