A Mulher e a filosofia
Losandro Antônio Tedeschi1
Resumo: Muito pouco de natureza existe em nosso corpo. Que cultura ou que discurso construiu a mulher? Como a “natureza feminina”, o corpo da mulher foi pensado? Platão nomeia a “natureza feminina” e responsabiliza a matriz (útero) pelas doenças femininas. Hipócrates, seguindo Platão, teoriza a “sufocação uterina” relacionando o fraco com o feminino e o forte com o masculino, hierarquizando os sexos desde a geração. Platão e Hipócrates unem-se na concepção da mulher como matriz; a semente, a produção, é exclusiva do masculino. Aristóteles constrói o gênero, designando ao feminino, inferioridade em todos os planos.
Segundo o filósofo, a mulher é um defeito. A aliança do pensamento filosófico grego com outros discursos será fundamental para definir a moral sexual ocidental.
Palavras-chave: Corpo. Gênero. Aristóteles. Natureza feminina. Platão. Hipócrates
Nosso corpo sempre teve muito pouco de nosso, foi muito mais o corpo que alguns gostariam que fosse. Escrever um texto sobre o corpo das mulheres é lidar com sombras, com fantasmas, com desejos masculinos sobre as mulhe1
Graduado em Filosofia pelo IFIBE, professor doutor em História Latino-Americana, pesquisador na área de gênero, estudos interculturais e educação popular. É coordenador do Núcleo de Assessoria e Estudos Interculturais (NAEI) da Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões (URI), em Santo Ângelo, RS, e membro da Red Educación Popular entre Mujeres en la América Latina (REPEM).
Filosofazer. Passo Fundo, n. 32, jan./jun. 2008, p. 95-108.
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res, com o imaginário masculino, com aquilo que chamamos representações. O corpo se constrói tanto pelo imaginário que existe em torno dele como pelas práticas que se articulam, as aprendizagens e as exclusões.
Entre as primeiras representações construídas na história humana sobre o feminino está o