Reflexoes
Pouco mais de três séculos separam a contemporaneidade da gênese da Ciência Moderna1. A despeito de centenas dos seus avatares a terem exaustivamente explicado — em modelos, rebeliões e acomodações teóricas, num constante e dialético exercício epistemológico2 —, o espanto diante da sua inexatidão conceitual ainda diz menos sobre o que é a Ciência e sobre quais as suas implicações para as sociedades humanas do que gostariam os povos ocidentais deste novo milênio.
Este é um momento de transição e insegurança para a Ciência, no qual são questionados a sua trajetória e os seus escopos, e em que o seu futuro já não se configura tão claro. A segunda metade do século XX trouxe avanços científicos magníficos, geradores de tecnologias essenciais à construção da vida social, tal como a experimentam os seus protagonistas. Não obstante, as propostas científicas dos séculos anteriores ainda se manifestam na contemporaneidade — e contra ela se insurgem —, causando grande desconforto epistemológico e originando discussões acadêmicas aparentemente irresolúveis sobre o futuro da Ciência, sua função e natureza, ou mesmo sobre a validade dos seus contributos.
Se durante a primeira transição científica, em meados do século XVIII, a Ciência abandonou as suas tautologias inaugurais para adotar os procedimentos metodológicos que a tornariam responsável por transformações técnicas e sociais sem precedentes; na segunda transição científica, agora no século XX, já não havia a ingenuidade que marcou aquela época pioneira, não se dispunha mais da certeza original de que a atividade científica era a panaceia para a verdade.
Na transição da Modernidade para a Pós-Modernidade, a Ciência — em quaisquer das suas vocações: natural, exata ou social — equivocou-se. Ou talvez fora conduzida ao equívoco. A chamada Utopia da Ciência Iluminista, qual seja, o projeto