Raízes do brasil

PENSAR O BRASIL - 500 ANOS
Vicissitudes da democracia no Brasil: o patrimonialismo como cultura

Celeste Cordeiro ∗

Ao discorrer sobre "Pensar o Brasil - 500 anos", como provocação temática da revista Síntese, deparo de imediato com a questão da democracia a desafiar nossas pretensas atitudes cidadãs. Dessa forma, sou tentada a refletir sobre a questão da democracia a partir de nossa História, de nossa formação, de nossa cultura política. Sem determinismos, mas também sem cair numa perspectiva de voluntarismo dos atores, poderíamos nos perguntar com que imaginário social as idéias democráticas vindas de além-mar tiveram de acertar contas entre nós. Será que podemos apelar, para melhor entendermos o Brasil, a um imaginário do Estado patrimonial? A relação entre instituições e imaginário já foi averiguada em profundidade por Castoriadis em sua instigante obra A instituição imaginária da sociedade, na qual ele demonstra que ao mesmo tempo em que as instituições não se reduzem ao Simbólico, elas Só podem existir no Simbólico. Assim, as relações sociais não podem deixar de ser sempre instituídas. E não por que tenham uma vestimenta jurídica (em certos casos nem sequer a têm), mas porque foram estabelecidas como maneiras de fazer universais, simbolizadas e sancionadas. Inspirados em Castoriadis, podemos também nos questionar: quais são as nossas
Celeste Cordeiro é Doutora em Sociologia, professora da Universidade Estadual do Ceará e coordenadora do núcleo de Pesquisa e Assessoria em Associativismo e Políticas Públicas da mesma universidade.
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maneiras tradicionais de fazer política, aquelas que tendem a influenciar as mudanças inerentes a toda cultura política vista como processo? Mesmo partindo da idéia de incerteza como base da democracia, mesmo compreendendo esta como produção social, que depende de decisões dos atores sociais, não podemos deixar de observar que há um chão histórico e Simbólico que serve de continente à construção política. Recusar