Raizes do brasil
Jacques Leenhardt/EHESS
Sérgio Buarque de Holanda baseia sua obra Raízes do Brasil sobre uma forte hipótese: os portugueses eram os mais bem preparados para efetuar a conquista dos trópicos em benefício da civilização, do que eles tinham consciência. Nisto 1 residia sua missão histórica essencial, da qual eles eram os portadores naturais . Este caráter natural, ou da necessidade natural desta conquista é sublinhado por SBH, que insiste sobre o fato de que ela tenha sido realizada, mesmo apesar 2 dos seus atores. Não se poderia insistir de forma mais incisiva do que esta, a respeito da idéia de uma necessidade histórica, idéia esta que tentaremos examinar nas reflexões que se seguem. Se SBH aceita considerar que esta colonização se tenha dado através de 3 muitas e sérias falhas , ele não vai ao encontro daqueles que lamentam o insucesso da experiência da colonização holandesa. Segundo tais detratores da colonização portuguesa, a falência dos holandeses no Brasil impediu que este fosse conduzido a um destino mais glorioso. Esta aparição do contraponto holandês, desde o início, não se dá por acaso. Ela vai permitir dar corpo a uma oposição constitutiva do arrazoado desenvolvido ao longo de toda a obra: aquele entre o tipo do aventureiro ibérico e o do trabalhador nórdico. Quando SBH fala da existência de uma ética de aventureiro, tal como se fala, habitualmente, de uma ética do trabalho, quando designa o aventureiro e o trabalhador como tipos sócio-psicológicos, construções intelectuais que não são encontradas na realidade histórica, mas que ajudam a pensar, imagina-se, imediatamente, que ele se inspira na obra de Max Weber e em sua metodologia do tipo ideal , desenvolvida na obra A Ética protestante e o Espírito do capitalismo.
Holanda, Sérgio Buarque, Raízes do Brasil, 4 ª ed. Editora da Universidade, 1963 .p.17. Ibidem, p. 18. 3 Ibidem.
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