Qualidades primárias e secundarias
Um cubo de gelo, por exemplo, tem a potencialidade de produzir em nossas mentes a ideia da forma cúbica, de algo frio, transparente; tais ideias são qualidades que Locke divide entre primárias e secundárias. As qualidades primárias não se separam dos objetos: independentemente das alterações que eles venham a sofrer, elas continuarão existindo nele. Por isso são também chamadas qualidades originais; elas não existem em si mesmas, apenas nos objetos. As qualidades secundárias são aquelas que podem produzir em nós diversas sensações, mas não são essenciais ao objeto; podem ser cores, textura, som. Se, por exemplo, deparamo-nos com um livro azul, o fato de ele ter essa cor não é algo essencial ao livro. Vemos, assim, que qualidades como gostos, sons produzem em nós diversas sensações e dependem das qualidades primárias.
As qualidades primárias estão presentes no objeto enquanto próprias dele; elas existem nos objetos, de forma independente da mente. Elas agem sobre nós na medida em que partículas se desprendem dos objetos e chegam até nós. As ideias das qualidades primárias produzem no sujeito um efeito semelhante ao do objeto, enquanto as qualidades secundárias produzem um efeito diferente do objeto; são dessemelhantes ao que há no objeto; elas existem para uma mente que as percebe. Nesse ponto pode surgir uma questão: se as ideias das qualidades secundárias são dessemelhantes a elas mesmas, de onde elas vêm? Só podem ser provenientes das qualidades primárias. Pode-se, através das qualidades primárias, produzir um conhecimento objetivo.
As qualidades primárias são sempre as mesmas, independente das pessoas. Elas aparecem para os sentidos da mesma maneira. Dessa forma, pode-se dizer que qualidades são potências nos objetos de produzir ideias no sujeito.
Forma, extensão, figura, movimento, número, volume, posição e situação são qualidades primárias; qualidades como cor, som, calor, frio, seco, úmido, dureza etc. são