QUADRO DEONTOLÓGICO KANTIANO
Como vemos a estrutura da ética aplicada desfruta de circularidade própria de uma hermenêutica crítica. É nos âmbitos da vida social que acabamos por perceber o principio do reconhecimento de cada pessoa como interlocutor válido. Entanto essa aplicação não trata de aplicar princípios gerais a casos concretos e sim de descobrir nesses diferentes âmbitos a modulação peculiar do principio comum. Os tempos em que parecia que o eticista descobria alguns princípios e depois os aplicava sem matizações passaram. A realidade atual faz com que sejamos modestos e a buscar junto com os especialistas de cada campo quais princípios de alcance médio e quais valores se perfilam nele. A interdisciplinaridade não é um modismo e sim uma urgência. O principio procedimental da ética do discurso precisa contar com outras tradições éticas para compor o modelo de aplicação. Com o tempo as diferentes tradições foram se mostrando unilaterais, tornando necessária uma complementaridade entre essas tradições. O que hoje é patente em qualquer tentativa de fundamentar a moral é diáfano na ética aplicada: um só modelo de ética é impotente para orientar todas as decisões dos mundos politico e econômico, médico, ecológico ou, simplesmente, a convivência entre os cidadãos. No fim acabamos nos vendo obrigados a levar em conta os diferentes modelos no momento oportuno, embora o elemento coordenador seja ético do discurso, por que esta acaba por fundamentar-se na ação comunicativa e na subsequente argumentação, que constituem o meio de coordenação das outras atividades humanas. Para finalizar, a ideia de sujeito como interlocutor válido configura o pano de fundo 'melódico' comum em todas as esferas, porém, a consideração desse sujeito como interlocutor válido gera uma série de exigências que acabam por ser entendidas à maneira de Dworkin (todos merecem igual consideração e respeito) ou de outras formas semelhantes.