Jürgem habermas
Na medida em que representam esforços sistemáticos de reabilitação da razão prática, a ‘teoria do agir comunicativo’ de Jürgen Habermas e a ‘teoria da justiça como eqüidade’ de John Rawls, ainda que sob aspectos distintos e a partir de concepções nem sempre convergentes, se defrontam com objeções similares lançadas pelos críticos da modernidade liberal. Neste sentido, é possível ressaltar a proximidade das intenções e dos resultados básicos de seus respectivos projetos teóricos. Entretanto, o recente confronto 1 entre os dois autores demonstra a necessidade de se colocar em novas bases a questão sobre o tipo de procedimento adequado para o estabelecimento de ‘princípios de justiça’ ou de ‘normas de uma sociedade justa’, isto é, a posição original de ignorância (Rawls) e a situação ideal de comunicação (Habermas) como modelos concorrentes de reconstrução do kantismo. A questão central deste estudo é portanto: quem melhor representa no interior de sua teoria as intuições do pensamento liberal, sobretudo no que diz respeito à herança kantiana? Talvez consigamos dar melhor resposta a esta pergunta tomando-a de forma indireta, ou seja, tentando observar quem melhor pode defender o ‘liberalismo’ 2 contra os ataques daqueles que, inseridos no mesmo movimento de reabilitação da razão prática, opõem-se ao foco privilegiado pelas teorias construtivistas da justiça como imparcialidade. Tomaremos como exemplo a perspectiva aristotélico-tomista de Alasdair MacIntyre 3, que evoca uma diferença fundamental advinda dos próprios alicerces de compreensão da questão da justiça, quer dizer, de um pensamento em cujo universo, ao invés de aparecer a primazia do justo
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Este texto apresenta os resultados provisórios e parciais de um projeto de pesquisa sobre a teoria do agir comunicativo e o debate entre universalismo e contextualismo na filosofia prática. Tal projeto conta com a