pulsoes e destinos da pulsão
Sigmund Freud
Ouvimos freqüentemente a exigência de que uma ciência deve estar construída sobre conceitos fundamentais claros e precisamente definidos. Na realidade, nenhuma ciência começa com tais definições, nem as mais exatas. O início correto da atividade científica consiste, em vez disso, na descrição de fenômenos, que são agrupados, ordenados e postos em contexto. Já na descrição não se pode evitar o emprego de certas idéias abstratas no material, as quais são evocadas de algum lugar – certamente não apenas a partir da nova experiência.
Ainda mais indispensáveis são tais idéias – os conceitos fundamentais posteriores da ciência – na subseqüente elaboração do material. Elas têm que, inicialmente, possuir em si certa medida de indeterminação; não se pode falar de um claro delineamento de seu conteúdo. Enquanto elas se encontram nesse estado, alcançase consenso sobre seu significado através da repetida referência ao material da experiência, do qual elas parecem extraídas, mas que, na verdade, se submete a elas. Portanto, elas têm, a rigor, o caráter de convenções, mas o que importa é que elas não são escolhidas arbitrariamente, mas, sim, estão determinadas através de relações significativas com o material, as quais se supõem adivinhar, até mesmo antes de se poder conhecê-las e demonstrá-las. Somente após uma pesquisa mais profunda do âmbito fenomênico em questão, podem-se apreender mais precisamente também seus conceitos científicos fundamentais /211/ e mudá-los progressivamente de tal modo que se tornem utilizáveis em um grande âmbito e, assim, totalmente livres de contradição. Então pode ser a hora de fixá-los em definições. O progresso do conhecimento, entretanto, não suporta rigidez das definições. Tal como o exemplo da Física ensina de modo brilhante, os “conceitos fundamentais” fixados nas definições sofrem sempre alterações de conteúdo.
Um conceito fundamental convencional, por enquanto ainda