Pulsões
“A teoria das pulsões é, por assim dizer, a nossa mitologia. As pulsões são seres míticos, grandiosos na sua indeterminação.”
Freud (Novas conferências introdutórias da Psicanálise [1932])
Introdução
Apesar de Freud ter abordado o conceito de pulsão em uma série de trabalhos anteriores, é somente em 1915, em um de seus escritos metapsicológicos, que se propõe a oferecer um maior esclarecimento sobre este conceito.
Para introduzir seu artigo Pulsões e seus destinos (1915), Freud aponta que na base até mesmo das ciências mais exatas, inevitavelmente esbarraremos em conceitos abstratos. Seriam hipóteses teóricas que nos possibilitam um entendimento outro para além do empírico e observável, justamente porque há sempre algo que nos escapa - algo que não cessa por não se inscrever. (Freud 2006 [1915], p.123)
A pulsão, neste contexto, seria uma moção que se situaria entre os registros mental e somático, sendo compreendida como uma representação dos estímulos que se originam dentro do aparelho psíquico. Freud a determina como a ‘mola propulsora’ da psique por seu caráter imperativo – uma ‘exigência de trabalho’ permanente imposta à mente, justamente por sua ligação com o corpo, visando descarregar o excesso de intensidade que, de outra forma, seria vivenciada como desprazer. (Freud 2006 [1915], p.118)
Pulsões e seu início
Em Três ensaios sobre a sexualidade (1905), Freud revela que a sexualidade humana não seria de ordem instintual - no sentido do filogeneticamente programado - mas sim o resultado de uma montagem e estaria sempre referida a uma sexualidade infantil. No primeiro dos Três ensaios, introduz a idéia empreendendo uma discussão sobre as aberrações sexuais, referenciando-as ao que era até então considerado perversão pela cultura da época. A partir de tal discussão, demonstra-nos que existiriam diversas formas em se obter prazer que estariam para além de uma relação sexual genital com fins de reprodução - visão de ‘normalidade’ da época.