Psicologias
— Chega! Não quero mais conversar. Você não é mais meu pai!
A mulher e a filha saíram de casa. Ele perdeu todos os clientes. A recepcionista, que trabalhava com ele há 15 anos, pediu demissão. Não sabia o que esperar de um homem que usava nariz postiço. Evitava aproximar-se dele. Mandou o pedido de demissão pelo correio. Os amigos mais chegados, numa última tentativa de salvar sua reputação, o convenceram a consultar um psiquiatra. [pg. 358]
— Você vai concordar — disse o psiquiatra, depois de concluir que não havia nada de errado com ele — que seu comportamento é um pouco estranho...
— Estranho é o comportamento dos outros! — disse ele. — Eu continuo o mesmo. Noventa e dois por cento do meu corpo continua o que era antes. Não mudei a maneira de vestir, nem de pensar, nem de me comportar. Continuo sendo um ótimo dentista, um bom marido, bom pai, contribuinte, sócio do Fluminense, tudo como antes. Mas as pessoas repudiam todo o resto por causa deste nariz. Um simples nariz de borracha. Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?
— É... — disse o psiquiatra. — Talvez você tenha razão...
O que é que você acha, leitor? Ele tem razão? Seja como for, não se entregou. Continua a usar nariz postiço. Porque agora não é mais uma questão de nariz. Agora é uma questão de princípios.
Luis Fernando Veríssimo. O analista de Bagé.
28. ed. Porto Alegre, L&PM, 1981. p. 39-42.
Questões
1. Qual a importância de se compreender a loucura?
2. O que ocorre com o indivíduo que é rotulado de louco?
3. Segundo Michel Foucault, como ocorre a construção histórica do conceito de doença mental?
4. Como se caracteriza a abordagem da Psiquiatria clássica? E a psicológica? 5. Como se definem as questões do normal e do patológico?
6. Quais são os aspectos polemizados pelas teorias críticas da loucura?
7. Qual a contribuição de Freud para a discussão da normalidade?
8. O que sign