Psicologia
SOCIOLOGIAS
ARTIGOS
Sociologias, Porto Alegre, ano 4, nº 7, jan/jun 2002, p. 176-187
Tipos e mitos do pensamento brasileiro *
OCTÁVIO IANNI **
Brasil pode ser visto como um país, uma sociedade nacional, uma nação ou um Estado-Nação, em busca de conceito. A despeito de quem tem nome e história, território e fronteiras, bandeira e hino, população e governo, heróis e santos, memórias e esquecimentos, glórias e sofrimentos, ruínas e monumentos, debate-se contínua e periodicamente no sentido de conhecerse, definir-se, estabelecer o seu lugar no mapa do mundo: Europa, África ou
Novo Mundo; branco, mestiço, indígena ou negro; arcaico ou moderno; autêntico ou errático; pretérito ou futuro; do terceiro mundo ou a caminho do primeiro mundo; cujo nome pode ser o de um país, vegetal ou mercadoria.
Este o estado de espírito ou a mentalidade que permeia as muitas inquietações de uns e outros, levando-os a buscar a fisionomia, o modo de ser, a realidade, os dilemas e as perspectivas da sociedade brasileira, do povo brasileiro, do Brasil como Estado-Nação. São muitos os que se perguntam qual pode ser a sua fisionomia, a sua explicação ou o seu conceito.
Perguntam-se sobre qual pode ser o “norte”, ou a direção, já que se repetem os impasses, as reorientações, os progressos e os retrocessos.
Este o clima que permeia boa parte das interpretações sobre o Brasil.
Entre as muitas interpretações mais ou menos abrangentes, assim como aquelas relativas a problemas que parecem muito particulares, há sempre algo que se pode definir como uma inquietação sobre o que foi, o que tem sido e o que poderá ser o país; como se fosse uma nebulosa informe, ao acaso, em busca de articulação e direção.
O
* Este texto é uma palestra que integrou o Seminário Temático “Cultura e Arte na Sociedade Contemporânea”, apresentado no XXV Encontro anual da ANPOCS, realizado de 16 a 20 de outubro de 2001, em Caxambú.
** Professor da Universidade de Campinas, São Paulo.