Psicologia Social e Transtornos Mentais
Para um aprofundamento na complexa temática dos transtornos mentais, demonstra-se necessária a realização de um rápido resgate a fim de relembrar como se constituíram as psicopatologias tradicionais e, também, identificar determinados preceitos dos quais a medicina mental tem de se conscientizar para reelaborar antigos padrões (Foucault, 1984). Tal processo desenvolveu-se em duas etapas principais a serem descritas brevemente a seguir.
Inicialmente, a medicina mental utilizou do mesmo método de investigação da medicina orgânica (biologismo) para estudar a essência da doença mental no agrupamento coesivo dos sinais que a indicam. A partir disso, constituiu-se uma sintomatologia que enfatizou as correlações constantes entre algum tipo de doença e determinada manifestação mórbida, como por exemplo, a alucinação visual como sintoma de uma estrutura delirante. Por outro lado, foi composta uma nosografia onde se investigou as próprias formas da doença, delineando suas fases de evolução e restituindo as variantes que dela resultam, como por exemplo, as doenças agudas e crônicas, as manifestações episódicas e, também, as variações sintomáticas e seu desenvolvimento no transcorrer da doença (Foucault, 1984).
Neste sentido, Foucault (1984) afirma que, para buscar a definição de doença mental através da utilização dos mesmos métodos empregados na investigação da doença orgânica, ou seja, tentar reunir os sintomas psicológicos da mesma forma que os fisiológicos, é necessário considerar a doença mental como uma essência natural manifestada por sintomas específicos. Entretanto, esse tipo de análise demonstra-se bastante reducionista, pois descreve apenas algumas coordenadas com as quais a psicologia pode refletir sobre o processo patológico, não demonstrando as formas e condições para que tais patologias se desenvolvam. Segundo o autor, as bases do conhecimento psicológico, mesmo as mais gerais, são relacionadas a um determinado momento da humanidade.