Psicologia do desenvolvimento
Jerusalém apresenta-nos personagens dilaceradas que se cruzam, se entrelaçam, se movimentam por vezes se amam e, quase sempre, se magoam na noite de uma fria e emblemática cidade, supostamente, alemã.
A personagem do médico Theodor afiguraste-nos a mais complexa de todas. Ele próprio se considera uma espécie de Deus. Sob a capa do altruísmo e da dedicação para com a humanidade, Theodor mal disfarça seus sentimentos mais obscuros. Ele procura sempre separar com clareza os loucos e "doentes da cabeça" dos "homens saudáveis", os normais. Gaba-se da capacidade de "perceber os loucos". Donde, acha que a melhor solução é interná-los. Foi o que fez com a sua mulher.
Esta filosofia de que em mundo insano quem é são é louco remonta à clássica novela de Machado de Assis, O Alienista. Gonçalo M. Tavares não traz em si, porém, o sarcasmo aberto e corrosivo de Machado. Seu humor lembra mais o de Kafka: lúgubre e melancólico. Gonçalo assemelha-se ao autor checo também pela sua prosa lacónica e enxuta.
No final da leitura, restam dois enigmas para mim indecifráveis: O primeiro, a data de 29 de Maio tem algum significado? A “Noite dos Cristais” é uma data conhecida pelos atos de violência que ocorreram em diversos locais da Alemanha e da Áustria, então sob o domínio nazi, com destruição de sinagogas, de lojas, de habitações e de agressões contra as pessoas identificadas como judias. Mas, isso aconteceu na noite de 9 de Novembro (de 1938); o segundo, o título do livro. “Jerusalém” porquê?. «Jerusalém» é nome da cidade símbolo da encruzilhada de civilizações e de religiões. Será que o autor nos apresenta essa mítica cidade como símbolo dos caminhos obscuros que a mente humana pode percorrer?
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O livro traz um universo de contos emaranhados por histórias pessoais, tendo como pano de fundo os horrores que o holocausto trouxe à sociedade, instrumento com o qual, Theodor Busbeck