Psicanálise e ciência
MARCELO WALMIR ARALDI
RESENHA DE ARTIGO
Muito já se discutiu sobre a cientificidade dos postulados psicanalíticos. Há quem afirme que com as mudanças epistemológicas ocorridas no século XX deram margem para que habitasse o campo científico; há outro, que afirma que a noção de ciência em nossa cultura seja demasiado limitada e que, por isso, a questão é irrelevante; há um terceiro que tece teses de que a psicanálise existe em função da ciência, como que um resto seu, embora não tenha condições de se sustentar com os tradicionais traços científicos de objetividade; há ainda outro que propõe uma análise diferenciada, modificando o curso da questão de pertencimento à ciência para a heurística psicanalítica e; por fim, há quem tente elaborar uma epistemologia da psicanálise. Este último posicionamento é criticado pelo autor: um regramento da psicanálise deceparia o que, em essência, é peculiar nela mesma: a perspectiva do inconsciente. Isso porque o inconsciente é um conceito que originalmente em psicanálise foi demonstrado a partir das especulações metapsicológicas. Desse modo, opõe-se a esta possibilidade, reconhecendo a leitura freudiana, apropriada já do inconsciente, das atividades humanas e dos modos de conhecimento. Em seguida sugere que a questão seja deslocada da questão da cientificidade para a elucidação histórica tanto da ciência naquele contexto quanto das pretensões de Freud em relação a esta. Com isso, lembra que o contexto da época era produto da Renascença, e que, portanto se caracterizava como descrença na fé em virtude da razão científica. Desse modo, Freud aproveita o embalo e, como um bom estrategista, observa que a psicanálise é encarregada de tratar aquilo que a ciência justamente negou-se a tratar como material empírico, a saber, desejos, ilusões, vontades, sonhos, sexualidade, entre outros. A perspectiva de ciência feyerebendiana, de um anarquismo epistemológico, desprovida de uma