Provas
“SEU” JOCA
Desde mocinho que o “Seu” Joca tocava pandeiro na bateria de uma escola de samba. Quando ele era moço fazia um sucesso danado: virava cambalhota, jogava o pandeiro pro alto, fazia pirueta, todo mundo gostava de ver. Mas foi ficando velho: jogava o pandeiro pra cima e quem diz que pegava de volta? Era só fazer pirueta que trançava uma perna na outra e se estatelava no chão. Então o pessoal da Escola mandou:
– Esquece pirueta, cambalhota, não joga mais nada pro alto, “Seu” Joca. Só batuca e pronto, tá? “Seu” Joca obedeceu. A coisa que ele mais adorava na vida era fazer parte da bateria da Escola. Ele não tinha família, morava numa casinha muito ruim, ganhava pouco dinheiro, o trabalho no Zoo era chato, a grande curtição era sair com a Escola no Carnaval. Então, tudo que diziam para ele fazer, ele fazia; topava qualquer coisa pra continuar tocando na bateria.
O tempo passou. “Seu” Joca ainda ficou mais velho; deu pra batucar mal. Um dia, quando ele chegou ao ensaio, disseram:
– Agora não dá mais pé, “Seu” Joca. Esse negócio de batuque é coisa pra moço. Aproveita o carnaval pra ficar em casa descansando, tá?
“Seu” Joca foi pra casa de cabeça baixa. Não dormiu a noite toda. Só de tristeza. E a toda hora os vizinhos ouviam um barulhinho – pin: era uma lágrima do “Seu” Joca caindo no chão.
No dia seguinte, logo que chegou ao Jardim Zoológico, “Seu” Joca foi olhar o Pavão (ele costumava dizer que pra curar tristeza a gente deve olhar coisa bonita). Olhou, olhou. De repente, teve uma ideia maluca: se assustou, nem quis pensar nela outra vez. E empurrou a ideia pro fundo do pensamento, mas ela teimou e voltou. E ficou. Era a ideia de roubar o Pavão. De noite “Seu” Joca foi à Escola de Samba, juntou o pessoal e falou: – Negócio é o seguinte: nossa Escola é pobre, nunca fez boa figura no carnaval. Se a gente tivesse destaque a coisa era diferente. Mas destaque precisa de fantasia de luxo; fantasia