Professor
Nos debates sobre a necessidade de democratizar a propriedade da terra no Brasil, com freqüência afloram argumentos de que os atuais grandes proprietários de terra adquiriram essas terras com o suor do seu trabalho. E agora, comunistas, espertalhões e "exploradores" querem "roubar" o fruto do seu trabalho, construído por gerações. Outros, menos dissimulados, evocam simplesmente o direito "sagrado" e absoluto à propriedade da terra. Se comprou, pagou, se está registrada em cartório, é dele e pronto!. Afinal, os ricos proprietários de terra não têm culpa de ter um espírito tão empreendedor, ao contrário dos pobres, tão indolentes e com pouca criatividade. Mas qual é a origem mesmo da grande propriedade no Brasil? Terá sido fruto mesmo do trabalho acumulado de gerações? Até a conquista européia em 1500, esse território chamado Pindorama, habitado por aproximadamente 5 milhões de pessoas aglutinados em mais de 200 povos indígenas, com território, culturas, hábitos diferenciados, a propriedade da terra não era privada. Era apenas um bem da natureza utilizado coletivamente por todos os membros dos diferentes povos, que controlam cada qual seu território. Os brasileiros primitivos que aqui viviam tratavam a terra como um bem comum, que todos tinham o direito de explorar para sobreviver. A chegada do europeu colonizador significou, pois, uma ruptura nesse sistema, já que um dos objetivos da colonização era se apoderar dos bens existentes, especialmente a terra e os recursos naturais, minérios e florestas. Nesse conflito que se estabeleceu à força da pólvora e do controle ideológico da religião, impôs-se uma derrota aos povos que aqui viviam, e Portugal passou então a gerir os bens da natureza de acordo com suas leis. Assim sendo, os portugueses passaram a administrar as terras da colônia Brasil de acordo com