Professor
Mas, afinal, o que estava acontecendo com o café? perguntava-se, perplexo, o homem da rua, em fins de 1902. Não era ele o "ouro verde" de que tantos falavam? Que anúncios de crise eram aqueles? Onde estava a antiga euforia, aquela impressão de riqueza sem limites, proporcionada pelo café, e que foi a marca dos últimos decênios do século XIX?
E, com efeito, aquilo que parecia impossível na década de 1880 estava de fato acontecendo. A cotação internacional do café caía constantemente, enquanto as fazendas lançavam no mercado quantidades crescentes do "ouro verde". A safra dos anos 1901/1902 havia superado a marca de 16 milhões de sacas, para um consumo mundial ligeiramente superior a 15 milhões. E a cotação do produto no mercado externo, que havia sido de 102 francos-ouro em 1885, caíra para 33 francos-ouro em 1902. De fato, desde 1893, os preços internacionais vinham caindo sistematicamente como consequência dos problemas econômicos dos Estados Unidos, nosso principal cliente, e da expansão mundial da produção de café.
Mas durante alguns anos a queda dos preços havia sido compensada pela desvalorização do mil-réis. Os cafeicultores recebiam menos em libras ou em francos, mas o montante de suas rendas em moeda nacional não se alterava substancialmente. Essa desvalorização do dinheiro era provocada pelo "encilhamento" - política de farta emissão de papel-moeda adotada na gestão de Ruy Barbosa no Ministério da Fazenda (1889-1891), durante o governo de Deodoro da Fonseca. Visando a aumentar a quantidade de dinheiro em circulação, para incentivar o estabelecimento de indústrias e possibilitar o pagamento da massa assalariada que começava a substituir os escravos, o "encilhamento" gerou um galopante processo de inflação. Essa política caracterizou-se também pelo estímulo oficial à constituição de sociedades por ações, o que gerou desenfreada especulação na Bolsa de Valores. (Daí