Problemas encontrados no dia a dia pelos surdos
É perturbador refletir sobre as inúmeras formas de pertencer ao mundo quando não se tem particularidades que problematizem toda sua trajetória de vida e até mesmo situações simples do dia a dia. Estamos habituados a viver uma autonomia que foi construída ao decorrer de uma vida inteira desde nossas descobertas cognitivas na infância, e ao acúmulo de experiências cotidianas.
Tento retomar minha memória da infância, que quando criança; meu primeiro contato com surdos foi ao assistir a uma conversa entre duas pessoas surdas em frente à igreja que ficava do outro lado da rua, de frente a minha casa, e fiquei intrigado como poderia haver uma forma de compreensão sem a fala entre pessoas adultas. Será que ainda não tinham aprendido a falar? Minha mãe me disse que existiam pessoas que nasciam com problemas na voz e não falavam. Pensei comigo mesmo “Como eles gritam a mãe deles?” É engraçado pensar a ingenuidade das crianças, e mais engraçado ainda pensar como sobrevivemos aos nossos pais. Descobri que naquela mesma igreja havia uma comunidade de surdos que faziam partes do grupo de jovens, e passei a frequentar todos os domingos. Eles ensinavam um pouco desta linguagem que até então para mim era curiosa. Aos poucos fui percebendo que eles não atendiam aos chamados orais, quando entendi que além de mudos, também eram surdos. Não deveria ser fácil. Como criança, pela primeira vez percebi que nem todas as pessoas eram todas exatamente iguais. Tenho para mim que desde sempre, nem sempre fui rápido ao perceber certas coisas. Após os meus sete anos pude cursar as oficinas de linguagem de sinais que eram ministradas por um grupo da Igreja Batista chamado “Vencendo o Silêncio”, onde pude ter contato com a realidade daquele grupo de surdos e compreender minimamente as particularidades e necessidades deles. Enquanto estive fazendo parte destas oficinas na igreja pude