Primavera - Sandro Boticelli
Sandro Botticelli. Primavera. 1482, Têmpera sobre Madeira, 203 x 314 cm Florença, Galeria Ufizzi.
Obra de temática profana mitológica clássica, que com símbolos das divindades pagãs, apresenta-nos a chegada da estação que abre o círculo da vida e da sua renovação, ou seja, a primavera. Na concepção mitológica, Vênus, deusa do amor dos humanos e dos deuses, é a responsável pelo desejo da água, que tudo fecunda e renova. No quadro de Botticelli, Vênus aparece no centro da obra, mas não sendo a principal personagem da pintura. A deusa é representada de forma discreta, vestida. Vênus tem gestos nas mãos, e como uma madona parece abençoar o mundo. À sua cabeça, vemos Cupido, que com os olhos vendados, aponta a sua seta para a três Graças, que estão do lado esquerdo da deusa do amor. Quando descortinamos a obra a partir da figura de Aglaia , Tália e Eufrósine[1], as três Graças, Cárites ou Dons, é que começamos a encontrar sinais dos traços precisos da filosofia neoplatônica. As Graças surgem profanas, virginais, sensuais, trajando vestes transparentes, harmonizando a beleza das cores primaveris, pulsantes pela intervenção dos corpos humanos. Mais a esquerda do quadro está Mercúrio (Hermes), o mensageiro dos deuses, com suas sandálias aladas, trazendo uma túnica vermelha. Mercúrio dissipa as nuvens, rompe com o inverno, e traz o sol de primavera. Warburg associou esta pintura às festividades de maio na Corte dos Médici: o torneio de 1475, celebrado pelo poeta Poliziano, na qual se ilustrou Giuliano de Médici: a volta da paz, depois do fracasso da Conspiração dos Pazzi, que matou Giuliano e poupou Lourenço de Médici. Apesar disso, segundo o mitógrafo Jean Seznec,[2] há um ar longínquo, uma atmosfera quase irreal na obra: estamos num mundo que não parece ser o dos vivos e ali, os grandes enigmas da Natureza, da Morte e da Ressureição flutuam em volta das formas sonhadoras da Juventude, do Amor e da Beleza, fantasmas de um Olimpo ideal.
Quando voltamos