Prefácio
Conhecemos um dos mais interessantes poetas contemporâneos neste livro O ex-estranho. Os 53 poemas – alguns haicais – surpreendem a cada leitura; as experimentações com a língua(gem) trilham novos caminhos de compreensão, obrigando-nos a apurar nossa interpretação.
O poeta, Paulo Leminski, não cessa de usar a forma para exprimir um conteúdo poético prezando o que podemos apreender como essencial, e por meio de uma linguagem célere. Seus versos, dessa forma, aparecem com frequência dispostos funcionalmente nas páginas, ampliando os sentidos das palavras no espaço “ocupado” pelo poema.
re mortas eras remotas mil & uma portas
Perito em sintetizar sua mensagem em poemas breves, ao ler – e reler – os versos acima, nos deparamos com uma cruz graficamente destacada, metáfora visual para as longínquas épocas que, talvez exatamente pela distância que guardam de nós, morrem continuamente, mas encerrando inúmeras possibilidades de a elas voltarmos.
O trabalho de Paulo Leminski com a forma do poema não lhe diminui, contudo, o inspirado(r) olhar voltado para a alma humana: “nunca sei ao certo / se sou um menino de dúvidas / ou um homem de fé / certezas o vento leva / só dúvidas continuam de pé”. Aqui, a subjetividade extravasa para uma alteridade que nos alcança; lemos nesses e em outros tantos versos nossos desejos, fantasias, mágoas, saudades...
O ex-estranho é isso: conexão entre a escrita do poeta e o sentimento do leitor que adota os versos como sua expressão pessoal. Conexão fácil de ser entendida quando conhecemos o preâmbulo feito pelo próprio autor:
Este livro de poemas, que ia se chamar O EX-ESTRANHO, expressa, na maior parte de seus poemas, uma vivência de despaisamento, o desconforto do not-belonging, o mal-estar do fora-de-foco, os mais modernos dos sentimentos.
Nisso, cifra-se, talvez, sua única modernidade.
p. leminski
O mergulho na apreensão da poesia de Leminski já